(ou Das vantagens de ser jovem...)
Noto, como quem acorda de um sonho muito bom, que os anos passaram.
Sinto, como um sapato apertado, que não vejo mais as coisas com a leveza de olhos jovens.
Não que não veja vantagem em envelhecer. Vejo, e muito, mas sinto falta de algumas coisas:
Andar na rua despreocupadamente, sonhando com objetivos futuros.
Voltar para casa tarde, na madrugada, e ver isto como "aproveitando a vida".
Amar de primeira vista! Amar platonicamente, acho que é do que sinto mais falta.
Lembro quando me perdia em pensamentos por alguém.
Ah! Como sofri... As poesias me vinham, assim como as lágrimas, facilmente... Afinal amava além do que meu coração poderia supor.
Sentir o primeiro beijo de alguém, como o último que receberia.
O pulo do coração.
As borboletas no estômago.
As descobertas sobre mim e o outro.
Hoje o campo já é conhecido, o outro, mesmo sendo um outro novo, não chega mais a me surpreender.
Talvez porque já me conheça bem demais, conheça minhas reações... inclusive, e até principalmente, a reação de surpresa.
Agora as borboletas não voam mais... pousaram talvez em algum lugar, mas não me avisaram onde.
O coração, meu amigo de três décadas, pula com um compasso conhecido, com um ritmo ligeiro, porém constante.
Espero que seja apenas o retorno de saturno passando por mim.
Espero ter novamente alguns dos impulsos que tanto gostei de sentir.
OBS: As vantagens da juventude são sentidas, notadas, quando passamos a ser a pessoa na sala a dizer "na minha época"
